Não é novidade que o Brasil, como um país tropical, nos oferece uma quantidade abundante de frutas. Historicamente, elas sempre estiveram nas dietas das famílias brasileiras, tanto em sua forma original como por meio de alimentos derivados: geleias, tortas, doces e, principalmente, sucos. Apesar de sua popularidade, no entanto, o segmento de sucos tem sofrido as consequências da turbulência econômica e dos altos índices de inflação a que temos assistido nos últimos dois anos, que têm transformado os hábitos de consumo no Brasil
A pandemia e os desafios econômicos que decorreram dela tiveram grande impacto nos hábitos de consumo no mundo todo, inclusive no que diz respeito a alimentos e bebidas, levando a desafios como aumento de preços, escassez de insumos para produção, problemas no transporte de produtos e mais. Os sucos estão entre os produtos afetados. De acordo com dados apresentados pela Mintel em um relatório deste ano sobre o consumo de sucos no Brasil, apesar de muitos consumidores buscarem driblar a inflação optando por opções mais baratas, a categoria é percebida como aliada de uma dieta saudável – fator que cada vez mais tem determinado as decisões de compra no país, especialmente em tempos de pandemia –, mantendo-se relevante na dieta dos brasileiros. Conversamos com Danilo Zorzan, Diretor de Marketing da Tetra Pak Brasil, para aprofundar esses dados e entender como podem ser relevantes para a indústria.
Você diria que a categoria de sucos está estável, apesar de ter sido impactada pela pandemia?
Diria que a categoria de sucos está vivendo uma relativa estabilidade, pois apesar de continuar relevante na dieta dos brasileiros, os consumidores estão cada vez mais críticos em relação a ela. A pesquisa da Mintel sobre sucos aponta que 28% dos brasileiros têm reduzido o consumo da bebida por terem a percepção de que são produtos ricos em açúcar e, consequentemente, incompatíveis com uma alimentação saudável. Essa é uma tendência particularmente importante para a indústria à luz da nova legislação sobre rotulagem de alimentos e bebidas, que impõe a exibição de informações claras a respeito dos valores nutricionais dos produtos nas embalagens, o que inclui açúcares adicionados, gordura saturada e sódio.
De que forma você acha que essa nova legislação vai impactar fabricantes?
No caso de fabricantes de sucos, isso demandará o investimento em novas formulações, que preferencialmente reduzam a quantidade desses componentes nas bebidas ao mesmo tempo em que mantenham para o consumidor um preço competitivo. E sim, equacionar as duas variáveis é possível. Em países onde a rotulagem já está em vigor, diferentes marcas ajustaram com sucesso formulações de produtos a fim de reduzir o teor de açúcar nas bebidas.
Há outros achados relevantes para os fabricantes na pesquisa sobre sucos?
Ela aponta que 39% dos entrevistados estão consumindo mais água e frutas frescas em vez de sucos, o que está relacionado tanto aos desafios econômicos como a uma percepção – apresentada por 20% deles – de que os sucos não são tão saudáveis quanto as frutas in natura. Entendo que esta seja uma oportunidade para as marcas apostarem em formulações de sucos com altos teores de vitaminas e minerais, próximos ao nível das frutas frescas, incrementando seu valor agregado a fim de mostrar aos consumidores que os sucos podem, sim, fazer parte de uma dieta saudável e equilibrada.
De que forma você acha que essas transformações no consumo de sucos no país devem evoluir num futuro próximo?
Muitas dessas mudanças nos hábitos de consumo são fruto dos anos de turbulência econômica e pandemia. Algumas delas podem ficar restritas a estes anos, mas tenho certeza de que, em um cenário de recuperação econômica, estimado para daqui três a cinco anos, o consumidor brasileiro demandará produtos cada vez mais saudáveis e sustentáveis em sua produção, e a categoria dos sucos não será exceção. O relatório da Mintel, afinal, aponta que, mesmo hoje, com todos os entraves econômicos, 33% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por sucos feitos a partir de ingredientes sustentáveis, e 27% deles pagariam mais por sucos envasados em embalagens sustentáveis. Não sou futurista, mas tendo a apostar que estes índices só crescerão à medida que os efeitos da crise climática e de desafios de saúde pública se tornarem mais e mais perceptíveis na vida dos consumidores.