Com tempo se esgotando, COP30 no Brasil ganha relevância e urgência

Por Marco Dorna, presidente da Tetra Pak Brasil.

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Neste final de ano tivemos, ao mesmo tempo, dois eventos fundamentais que ocorreram em diferentes lugares do mundo, mas que sinalizaram claramente que há muito, mas muito mesmo, a ser feito para brecar e combater a emergência climática. Tivemos, no Brasil, o encontro do G20 -grupo que reúne as maiores economias do mundo -- e, no Azerbaijão, a COP29.

Economia e meio ambiente estão interligados e interdependentes não é de hoje. Mas hoje é mais evidente que devem obrigatoriamente andar juntos, com decisões assertivas e que de fato tragam resiliência neste cenário de devastação climática pelo qual passamos. Já disse algumas vezes e repito: com catástrofes ambientais, a atividade econômica não sobrevive em lugar nenhum do mundo.

Claro que, em países desenvolvidos, essa conta pode demorar mais para chegar devido às vantagens que têm, mas ela chega cedo ou tarde. Mais cedo, pelo andar da carruagem.

Em Baku, capital do Azerbaijão, as negociações climáticas terminaram com os países ricos se comprometendo a investir pelo menos US$ 300 bilhões ao ano, menos de 1/3 do que queriam as nações em desenvolvimento, que buscavam US$ 1,3 trilhão em apoio. E mesmo a cifra acordada, ainda não há detalhes como e por quem será tirada do papel; há apenas menções de que será um dever também dos setores público e privado.

Ao mesmo tempo, em território brasileiro, os principais líderes globais foram mais adiante ao concordarem com a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, com adesão de 82 países, bancos de fomento, organizações filantrópicas e não governamentais. O objetivo é mudar a realidade de 733 milhões de subnutridos no mundo ou 9% da população global, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Neste contexto de combate à fome, a Aliança também traz pontos sobre meio ambiente e questões climáticas.

Tudo isso num contexto de aumento de temperatura assustador. Em 2023 e 2024, a média global já ultrapassou o marco simbólico de 1,5°C acima do período pré-industrial (1850-1900) em alguns momentos. Até 2022, a temperatura global havia subido 1,2ºC, mas cresceu inédito 0,3ºC em um ano.

Todos esses esforços são para olhar o futuro, e torná-lo acessível e seguro a todos e todas. E sabemos que o tempo para esse futuro está se esgotando, por isso 2025 será fundamental para que medidas concretas sejam de fato tomadas.

A importância e a responsabilidade da COP30, que será realizada no Brasil, já são enormes neste contexto, mas também há grandes chances de o debate se tornar menos amigável por conta de contexto político que vamos viver no próximo ano, baseado em posicionamentos negacionistas. Como disse o cientista brasileiro Carlos Nobre, um dos mais respeitados do mundo quando se fala em questões climáticas: “A COP30 não será apenas mais uma conferência climática; será um divisor de águas na luta contra o colapso ambiental global.”

Nunca disse que seria fácil, ao contrário, sempre foi difícil trabalhar para enfrentar a emergência climática diante de tantos e diversos interesses. Mas estamos ficando sem tempo e momentos como a COP30 não podem ser desperdiçados por ninguém, e aí, como sempre, incluo o setor privado, que pode e deve assumir ações climáticas que enfrentem esse cenário.

E reforço: com catástrofes ambientais, a atividade econômica não sobrevive em lugar nenhum do mundo.

*Marco Dorna é presidente da Tetra Pak.