A conversa sobre digitalização não é nova na indústria e, mais recentemente, aparece também o conceito de digitização. Os termos têm ganhado importância nas últimas décadas, à medida que a internet, a virtualidade e a oferta de sensores se expandiram. Empresas de todos os setores estão diante da necessidade de revisitar seus processos, modelos de negócios e de inovação e de migrar seus dados para os meios digitais
Nos últimos dois anos, os termos “digitalização” e “digitização” estiveram nos holofotes como nunca. Isso porque, no que diz respeito ao curto prazo, os efeitos da pandemia de COVID-19 chacoalharam basicamente todos os setores da economia e, em meio à crise generalizada, todas as indústrias – inclusive a de alimentos e bebidas – se viram diante da necessidade de aumentar sua produtividade e ampliar vantagens competitivas. Conversamos com Fernando Caprioli, Diretor de Serviços da Tetra Pak Brasil, para entender melhor esse movimento e sua importância para a indústria.
Como você definiria “digitalização”?
O conceito de digitalização, quando pensamos na indústria, engloba, de forma ampla, a passagem dos dados físicos de uma empresa para o meio digital. Eliminar pilhas de papeis, ressignificar o uso de espaços dedicados ao arquivamento, passar dados para a nuvem, usá-los para tomar decisões mais assertivas, arquivando-os com maior segurança e rastreabilidade; enfim, tornar todos os dados de uma companhia mais digitais e acessíveis.
A “digitização”, por sua vez, se refere a quê?
Nos últimos anos, organizações têm utilizado o termo “digitização”, que, à designa processos diferentes, embora complementares, à digitalização. O conceito envolve atividades de revisão de processos e de inovação, ou seja, a transformação do próprio negócio em digital por meio de mudanças profundas, que passam pelo modelo de negócio, criação de novos processos, sistemas e ferramentas; uma verdadeira transformação na forma de atuar de uma companhia rumo a um modelo mais inteligente. Juntos, os processos de digitalização e digitização compõem o guarda-chuva mais amplo de “transformação digital” da indústria, em que as empresas incorporam novas tecnologias para, em última instância, digitalizar seus dados, aprimorar seus modelos de negócio, aumentar sua produtividade e potencializar resultados.
Como pensar estes conceitos para a indústria de alimentos e bebidas?
O desafio da indústria de alimentos e bebidas no longo prazo é grande. Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apontam que o crescimento da população mundial exigirá em 2050 um adicional de 70% na produção de alimentos e bebidas em relação ao que se produz hoje, e os processos de digitalização e digitização são não apenas atalhos, mas condições básicas para que esses objetivos sejam atingidos. Os seus benefícios para a indústria são inúmeros e contribuem não só para a performance e eficiência do negócio, mas também para torná-lo mais sustentável. A digitalização e a digitização contribuem para um gerenciamento cada vez mais inteligente da operação e dos diferentes dados envolvidos nela, a adoção de relatórios operacionais e dashboards digitais que permitem um monitoramento em tempo real das atividades fabris, de maneira visual, rápida e de qualquer lugar, o que agiliza o processo de tomada de decisão e contribui para uma atividade mais segura e, por consequência, de melhor qualidade. Hoje é possível, por exemplo, acompanhar o desempenho de linhas de produção com muito mais facilidade e se antecipar à necessidade de trocar peças, efetuar reparos e manutenções, o que diminui o tempo de parada das operações e a incidência de erros que levam ao descarte de produtos com defeitos.
Você comentou que estes processos tornam a operação da indústria mais sustentável. Poderia elaborar melhor como isso acontece?
Temos uma contribuição para a sustentabilidade mais óbvia, que é, por exemplo, dispensar a impressão de toneladas de papeis quando se emprega um processo de digitalização de dados, e consequentemente reduzir a energia gasta nessa produção de documentos físicos e o volume de descartes. Além disso, no entanto, soluções digitais têm contribuído para monitorar processos de limpeza industrial, um dos grandes gargalos de produtividade, permitindo uma visualização simples dos gastos da indústria referentes a químicos, água, energia e tempo de inatividade. Estes processos permitem identificar falhas e pontos de melhoria e, ao fim, levam a índices importantes de economia no consumo de recursos e matérias-primas sem comprometer a produção, ou seja, tornando a operação mais eficiente e sustentável.
Quais seriam suas palavras finais para a indústria no que diz respeito a digitalização e digitização?
Estes processos são condições para incrementar a produtividade da indústria e tornar sua atividade mais sustentável e eficiente. Sua implementação, no entanto, não é uma responsabilidade individual: fornecedores e indústria caminham lado a lado nessa jornada, ajudando-se mutuamente a gerir dados, reduzir o consumo de recursos e a produção de descartes, transformar modelos de negócio e melhorar produtividade. Trata-se de compartilhar dados, riscos e responsabilidades com um objetivo comum: fortalecer a indústria e ajudá-la a atravessar tempos de instabilidade e se adequar às exigências que determinarão quem se destacará no futuro.