Mostrar o “meio oculto” na cadeia de alimentos para acelerar descarbonização 

Por Marco Dorna*

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Começamos o ano da COP 30, o mais importante evento sobre aquecimento global e mudanças climáticas do mundo e, que será realizado no Brasil em novembro. Ele possui uma relevância ímpar, pois não há mais tempo para inação no combate à emergência climática. Há muito a ser debatido e feito, de forma concreta, em diversas áreas, incluindo a cadeia que envolve alimentos e bebidas.

Acredito que tenho lugar de fala neste ponto, afinal é meu dia a dia entender profundamente os desafios e oportunidades dentro do sistema alimentar e buscar soluções sustentáveis e produtivas para fornecedores, fabricantes e consumidores. E posso afirmar que existe, nesta cadeia enorme e complexa, algo que vou chamar de "meio oculto", com grandes oportunidades para aumentar as eficiências de produção. Leia-se sustentabilidade também.

Trata-se de um segmento que inclui atividades fundamentais de processamento, embalagem, armazenamento, transporte e distribuição, essenciais para garantir que os alimentos cheguem aos consumidores de forma segura e nutritiva.

De modo geral, quero mostrar a importância do setor de alimentos e bebidas na descarbonização do planeta. Existe uma grande área de transformação onde é possível atuar de maneira muito forte utilizando menos resíduos e com equipamentos mais eficientes. Sem contar o uso de embalagens que permitam um alimento viajar maiores distâncias sem a necessidade de cadeia refrigerada e conservantes, por exemplo, algo que reduz drasticamente a necessidade de energia.

Aproximadamente um terço das emissões de gás de efeito estufa (GEE) resulta de sistemas alimentares ineficientes, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Perde somente para a indústria petrolífera e, por si só, já é mais do que o suficiente para justificar a urgência em acelerar o processo de descarbonização. Além disso, obrigações regulatórias vêm sendo criadas e que pressionam o setor produtivo a agir, algo que devemos continuar vendo no futuro próximo apesar de ondas contrárias.

Muito recentemente, por exemplo, a União Europeia estabeleceu um acordo para implementar novas regras abrangentes sobre resíduos alimentares e têxteis, atribuindo os custos do descarte às empresas e impondo novas obrigações ambientais às plataformas de comércio eletrônico do continente.

Os sistemas alimentares no Brasil têm espaço para grandes evoluções ambientais e de negócios e um deles é reduzir perda nos processos produtivos e desperdício de alimentos depois de consumidos. Estamos falando de tecnologia e inovação a trabalho em educação ambiental, frentes que o setor privado pode apoiar de alguma maneira.

Outra face que pode servir neste propósito de descarbonização pode ser a inovação em novas fontes de alimentos, que gerem ganhos ambientais, produtivos e sociais. Novamente vou recorrer ao meu mundo, onde há alguns projetos que usam a ferramenta conhecida por Lavoura-Pecuária-Floresta, estratégia de produção agrícola que combina atividades de cultivo, pecuária e floresta na mesma área.

Atuar de forma conjunta para o desenvolvimento de novas políticas para melhora de processos, obrigações e direitos também faz parte desse escopo e, ao fazer esse trabalho conjunto, setores privado e público e sociedade só têm a ganhar. Não é fácil, claro, há questões que "jogam contra", como custo de financiamento, em especial aqui no Brasil neste momento de juros elevados.
Mas a realização da COP 30 neste cenário crítico ambiental e social, e aqui no Brasil, talvez seja o fórum mais relevante que teremos no curto prazo para enfrentar essa emergência, criando soluções que sejam adequadas e possíveis.

*Marco Dorna é presidente da Tetra Pak.