A pandemia de Covid-19 impactou diferentes segmentos da economia, não sendo diferente para o setor de alimentos e bebidas. Com um consumidor mais preocupado com a manutenção da boa saúde, ganham destaque nas prateleiras dos supermercados bebidas funcionais e de alto valor agregado.
Para entender a nova dinâmica do mercado e as oportunidades que emergem para produtores de alimentos e bebidas, conversamos com Monica Pieratti, diretora de Processamento da Tetra Pak para as Américas.
Como a pandemia influenciou os hábitos de consumo do brasileiro?
São algumas as transformações que notamos se materializando no mercado consumidor. Quando olhamos determinadas classes sociais, notamos um movimento de ‘trade down’, ou a substituição de determinados produtos por opções mais baratas, o que também vale para itens da cesta básica. Este é um claro efeito da retração econômica e encolhimento do mercado de trabalho no último ano junto à alta da inflação (25% entre janeiro de 2020/2021, segundo a Associação Brasileiro de Supermercados).
Por outro lado, pessoas menos impactadas financeiramente pela pandemia têm atribuído à alimentação uma forma de se manter saudável durante a crise sanitária. A última edição da nossa pesquisa Tetra Pak Index indica que, no Brasil, 62% dos consumidores concordam com esta afirmação.
Em uma visão macro, fabricantes de alimentos e bebidas têm dois grandes pontos para abordar: o primeiro diz respeito ao posicionamento de preço, visto que diante do momento que estamos vivendo os consumidores estão revendo a sua cesta de compra; em segundo lugar, pelo lado dos fabricantes há uma oportunidade para adequar o seu portfólio de produtos e fazer o ‘perfect match’ entre aquilo que o consumidor está demandando e aquilo que de fato é ofertado nas gôndolas. Quanto mais versátil o portfólio, melhores as chances de se obter sucesso.
Essas mudanças são momentâneas enquanto vivemos um contexto de crise sanitária ou devem ser encaradas como transformações de longo prazo?
No caso da substituição de determinados produtos por opções mais baratas pode ser algo momentâneo, pois está diretamente atrelado ao momento econômico do país e ao poder de compra das famílias. Já no caso da alimentação como um suporte a um estilo de vida saudável, é algo que veio para ficar. Essa é uma tendência que já vinha ganhando forma nos últimos anos e que com a pandemia se consolidou.
Quando você menciona bebidas funcionais e de alto valor agregado, sobre quais tipos de produtos estamos falando especificamente?
São produtos que têm a saudabilidade como um dos seus principais benefícios. Aqui entram bebidas lácteas com alto teor de proteína, sucos e chás que melhoram o funcionamento do organismo e bebidas de origem vegetal, por exemplo.
Muitas dessas formulações se opõem às ‘bebidas tradicionais’, como o leite branco, por exemplo. Isso significa que o consumidor irá migrar das opções convencionais?
Não necessariamente. Em nossa indústria falamos bastante sobre o ‘share of stomach’, que é o quanto um consumidor consome de cada tipo de alimento. Ao fazer essa análise percebemos que há espaço para o consumo de leite branco e bebidas vegetais, por exemplo, sem que haja uma canibalização entre as categorias.
Agora, é certo que o consumidor quer variedade e que dentro dessa variedade ele quer encontrar alimentos que ofereçam benefícios à saúde. Dessa realidade os fabricantes de alimentos e bebidas não poderão fugir. Terão maior sucesso aqueles que melhor souberem adaptar o seu portfólio de produtos, indo desde itens tradicionais até os funcionais e de alto valor agregado.
No caso de fabricantes que já atuam com produtos ‘tradicionais’, qual a melhor forma de se adaptar às novas demandas do mercado consumidor?
Sob o ponto de vista da operação da indústria, na maioria das vezes são adaptações simples em linhas de produção que abrem caminho para a fabricação de novos produtos e diversificação de portfólio. Ou seja, não falamos de investimentos enormes ou da construção de linhas de processamento a partir do zero. A estrutura já está ali, ela só precisa ser adaptada.
No caso de fabricantes que não tenham clareza sobre em quais oportunidades surfar, na Tetra Pak temos equipes que trabalham identificando as novas dinâmicas do mercado consumidor e que levam isso aos nossos clientes. Além disso, dispomos de um Centro de Inovação ao Cliente onde os nossos parceiros podem se aprofundar nas novas tendências do mercado e a partir desse estudo desenvolver e testar novos modelos de embalagens e formulações para os seus produtos. Independentemente do porte e segmento no qual o cliente atue, certamente conseguiremos direcioná-lo de acordo com as oportunidades presentes no mercado consumidor.