por Marco Dorna, presidente da Tetra Pak Brasil.
Estamos sentindo na pele as consequências graves das mudanças climáticas, e essa urgência climática permanece uma pauta essencial. Diante de evidências científicas que apontam para o esgotamento do tempo necessário para reverter a crise climática, soluções como o reflorestamento e a restauração florestal ganham mais força nesta luta para evitar o ponto de "não retorno".
Essas tecnologias são fundamentais para absorver gases de efeito estufa (GEE) já acumulados na atmosfera em níveis alarmantes. A colaboração entre setores públicos e privados é mais necessária do que nunca para encontrar soluções que aumentem a capacidade de fotossíntese do planeta e, assim, ajudem a mitigar os efeitos do aquecimento global.
Às vezes, parece irônico que algo tão básico - plantar árvores e proteger o que resta de nossas florestas - seja agora uma das necessidades mais urgentes, reflexo das escolhas equivocadas feitas ao longo de décadas.
A situação é realmente crítica. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a concentração de GEE bateu recorde em 2023, com aumento de 11,4% nas últimas duas décadas, alcançando o nível mais alto já registrado na história humana. A concentração atual de CO2 na atmosfera é 151% superior aos níveis pré-industriais, anteriores a 1750. A última vez que a Terra registrou níveis semelhantes de CO2 foi há cerca de 3 milhões a 5 milhões de anos, quando o planeta era de 2°C a 3°C mais quente e os níveis do mar eram 10 a 20 metros mais altos do que os de hoje.
Com as emissões de GEE aumentando e sua concentração na atmosfera dificultando a dissipação de calor, o cenário se agrava. Além de reduzir imediatamente as emissões, é urgente intensificar esforços para a absorção de gases por meio da restauração e reflorestamento, já que eles permanecem na atmosfera por muito tempo. Também é fundamental combater o desmatamento irregular, que ainda representa quase metade das emissões brasileiras.
Restauração florestal e reflorestamento possuem diferenças: a restauração visa recuperar o ecossistema original de uma área, enquanto o reflorestamento pode ser mais flexível. Ambos, no entanto, promovem a remoção de CO2 da atmosfera. Mecanismos inovadores, como créditos de carbono e sistemas integrados de lavoura-pecuária-floresta, estão em desenvolvimento para ajudar na recuperação de áreas degradadas.
Apesar disso, as iniciativas ainda são insuficientes. Agentes econômicos precisam agir de maneira mais assertiva para impulsionar a recuperação florestal, especialmente no Brasil, onde grandes áreas ainda estão degradadas. Segundo o MapBiomas, 93% das áreas desmatadas em 2023 apresentaram indícios de ilegalidade, mostrando a necessidade urgente de reforçar a fiscalização e promover incentivos à recuperação.
Recentemente, o relatório "Mudança do Clima", elaborado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a Rede Clima, apontou que o Brasil registrou aumento de até 3°C em algumas regiões nos últimos 60 anos, superando a média global. Esse cenário intensifica riscos à segurança alimentar, à saúde humana e à economia, reforçando que a luta contra a mudança climática precisa de uma resposta imediata e abrangente. Para o Brasil, isso inclui a redução do desmatamento, restauração de ecossistemas, conservação de áreas naturais, e uma matriz energética de baixo impacto.
Investimentos de longo prazo são cruciais, pois árvores levam anos para crescer. Ainda assim, o início de um projeto agora já é um passo importante. Estou, por exemplo, envolvido no "Conservador das Araucárias", que visa restaurar 7 mil hectares de Mata Atlântica. Esse projeto, embora pequeno, serve de incentivo para que mais empresas se unam a essa batalha.
A urgência de combater as mudanças climáticas e suas consequências exige esforço coletivo e duradouro. A descarbonização e o reflorestamento e a restauração são parte essencial dessa transição, mas devem ser acompanhados de políticas que promovam a adaptação climática, a preservação de ecossistemas e a justiça ambiental.
Além do impacto ambiental, esses esforços criam oportunidades econômicas e melhoram a resiliência das comunidades. Cada hectare de floresta restaurada ou conservada representa um investimento no futuro - para a biodiversidade, o clima e, em última análise, para o bem-estar das gerações atuais e futuras.
* Marco Dorna é presidente da Tetra Pak.