2024-08-14

Relatório de Sustentabilidade: uma ferramenta eficaz de negócio e reputação

por Marco Dorna, presidente da Tetra Pak Brasil.

Marco Dorna, presidente da Tetra Pak Brasil

Sem informações claras, seguras e perenes, arrisco dizer que o acesso a linhas de financiamento e/ou de investidores fica bloqueado. Sem falar nas questões de percepção de clientes e consumidores, que também têm papel essencial na roda de negócios de qualquer empresa.

No mundo corporativo, a prestação de contas é uma regra de ouro. Para investidores, clientes, fornecedores, consumidores e toda espécie de stakeholders, ter informações relevantes sobre a empresa aliada é muito importante para a continuidade de relações comerciais transparentes e confiáveis. Tais dados vão desde a área financeira, produção, mercado e de sustentáveis. Estes últimos, é verdade, ganharam mais evidência recentemente diante de questões envolvendo emergências climáticas, por exemplo, mas ainda não de forma adequada. Talvez, por conta da ainda pouca atenção ou conhecimento sobre suas potencialidades em termos de negócios e reputação.

De modo geral, relatórios de sustentabilidade trazem informações detalhadas sobre práticas, metas e desempenho em relação a questões Ambientais, Sociais e de Governança (ESG, na sigla em inglês) de uma empresa ou grupo, tanto na esfera produtiva quanto financeira e de serviços. No documento, deve haver dados sobre suas ações para minimizar impacto ambiental - tanto dentro de suas operações quanto na de seus fornecedores e clientes (escopo 3)-, alimentar a equidade social e garantir boas práticas corporativas.

Os benefícios potenciais são imediatos. A empresa ganha em transparência, melhora sua imagem, fortalece sua cultura empresarial, aumenta a competitividade e a produtividade. Ou, quem duvida que implementar projetos de redução de resíduos e desperdícios, por exemplo, não impacta positivamente os ganhos?

Construir relatórios de sustentabilidade sólidos também ajuda a mapear eventuais riscos e oportunidades de negócios. E é exatamente neste ponto que quero me aprofundar um pouco mais.

No mundo, há relevantes movimentações de órgãos reguladores financeiros e de mercado no sentido de criar regras para mensurar e gerar soluções sobre riscos socioambientais - em destaque o climático - e seus impactos na economia. O Brasil não fica atrás. Ao contrário, com regulações específicas já valendo e forte debate tanto na esfera pública quanto privada.

Vou usar o exemplo do Banco Central (BC) como emblemático. Desde 2012, a autoridade monetária brasileira já vinha colocando sobre a mesa a necessidade de se criar regulações para a mensuração desses riscos nas operações do sistema financeiro nacional, esforços que culminaram em 2021 com a divulgação do seu pacote regulatório de sustentabilidade. De forma geral, as instituições financeiras são obrigadas a levar tais riscos em suas avaliações de crédito, algo que impacta diretamente empresas - de qualquer segmento- e seu acesso a crédito. 

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Susep, respectivamente os xerifes dos mercados de capital e de seguros, também entraram em campo com suas resoluções sobre riscos socioambientais. 

Dito tudo isso, fica evidente o valor crescente que relatórios de sustentabilidade têm neste mundo de negócios globalizado e cada vez mais de olho nas urgências climáticas, ambientais e sociais que o planeta enfrenta atualmente.

A minha avalaição também se estende para empresas de capital fechado que, teoricamente, não precisam se submeter a tantas regulações quanto as de capital aberto. Digo teoricamente, lembrando que os riscos socioambientais estão sendo levados em consideração pelo setor financeiro em boa parte do mundo e qualquer companhia acaba sendo atingida.

E, sem informações claras, seguras e rastreáveis, arrisco dizer que o acesso a linhas de financiamento e/ou de investidores fica bloqueado. Ou muito caro, o que pode ser a mesma coisa. Sem falar nas questões de percepção de clientes e consumidores, que também têm papel essencial na roda de negócios de qualquer empresa.

Sei que ainda há muito o que se caminhar, por exemplo, para a criação de parâmetros uniformes e eficientes para análises de riscos socioambientais, uma das maiores “dores” neste momento. Mas já há caminhos que apontam para soluções e, quem agir agora, terá maiores chances de sair ganhando primeiro também.

*Marco Dorna é presidente da Tetra Pak