Frequentemente confundidos até mesmo por profissionais da indústria, os conceitos “segurança alimentar” e “segurança do alimento” tratam de questões distintas: enquanto o primeiro foca na garantia de acesso da população a uma alimentação nutritiva, o segundo se refere à garantia de que os alimentos comercializados tenham qualidade.
Usualmente ouvimos de profissionais da indústria de alimentos e bebidas termos como “segurança alimentar” e “segurança do alimento”. Usados como sinônimos, os termos se referem a questões diferentes, mas que podem ser pensadas em conjunto: acesso da população a uma alimentação nutritiva e garantia de que os alimentos sejam produzidos com segurança e qualidade. Conversamos com Leticia Furlan, Gerente de Suporte e Proteção do Alimento para América do Sul na Tetra Pak, para entender melhor essa diferença e o que ela representa para a indústria.
A que se refere o termo “segurança alimentar”?
A segurança alimentar trata do direito da população a uma alimentação nutritiva, saudável e em quantidade suficiente para atender suas necessidades básicas, bem como das estratégias de governos, indústrias e instituições para garantir este acesso. Não se trata apenas de uma discussão sobre produzir uma quantidade suficiente de alimentos e bebidas, mas de como certificar que ela chegue a quem precisa. O termo deriva do inglês “food security” e tem ganhado, nas últimas décadas, cada vez mais força nas discussões sobre políticas públicas ao redor do mundo, com a Primeira Conferência Mundial de Segurança Alimentar, organizada pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) tendo ocorrido em 1974.
O termo “segurança do alimento”, por sua vez, se refere a quê?
O conceito “segurança do alimento”, que também existe e está correto, deriva do inglês “food safety” e refere-se à garantia de que os alimentos e bebidas produzidos pela indústria sejam seguros e de qualidade, ou seja, isentos de contaminações de qualquer natureza (microbiologica, física ou química). As discussões sobre segurança do alimento envolvem as práticas adotadas pela indústria para promover uma produção, manipulação e distribuição higiênica, cuidadosa e responsável dos alimentos, bem como da escolha de equipamentos, peças e embalagens adequadas, que minimizem a incidência de riscos à saúde do consumidor.
Por qual motivo os termos devem ser pensados em conjunto?
Um não funciona sem o outro: a indústria pode sofisticar e ampliar sua capacidade produtiva, o que, em teoria, supriria a necessidade alimentar de uma determinada população. No entanto, isso não necessariamente resolveria o problema da falta de acesso aos alimentos – ligada à segurança alimentar – visto que, mais que produzir alimentos, é preciso fazê-los chegar às pessoas. Da mesma forma, não se pode discutir o acesso a alimentos de qualidade se não houver quem os produza com segurança e em larga escala.
Muito se fala sobre alimentos industrializados, como os sucos, por exemplo, contarem com adição de açúcar ou conservantes químicos danosos à saúde. Este não seria um problema para a garantia da segurança do alimento?
A segurança do alimento é garantida pelo processo produtivo que contempla o tratamento térmico, no qual são eliminados os microrganismos que podem deteriorar o produto, e, no caso da Tetra Pak, pelo envase asséptico nas embalagens longa vida. Elas impedem o contato do produto com o ambiente externo, atuando como barreira a luz e o oxigênio, garantindo a segurança do alimento e preservando o valor nutricional e o aspecto original. Essa é uma das tecnologias que propiciam a produção de alimentos seguros, sem a necessidade de adicionar aditivos e açúcar. Claro que, independentemente disso, as propriedades nutricionais de cada produto são definidas pelos produtores dos alimentos, conforme suas prioridades.
Que conselhos gerais você daria à indústria no que diz respeito à segurança do alimento?
É fundamental que fabricantes de alimentos e bebidas adotem controles de qualidade e boas práticas de fabricação, a fim de garantir que os alimentos sejam produzidos com segurança e mantenham sua qualidade até chegarem à mesa dos consumidores. A escolha de uma matéria prima de qualidade, bem como o correto processamento dos alimentos, é essencial para garantir a segurança e qualidade dos produtos. Programas internos de controle do processo produtivo são fundamentais em todas as etapas da produção. Não posso deixar de destacar a relevância da manutenção preventiva dos equipamentos para o sucesso da operação, e também a realização de treinamentos para todas as pessoas envolvidas no processo produtivo. O conhecimento sobre esse tema deve ser disseminado para derrubar os mitos e divulgar as verdades sobre a atuação da indústria.