Há algum tempo a sigla ESG tomou conta do debate público, sendo o “E”, de meio ambiente em inglês, a letra que tem assumido o protagonismo na discussão. Para entender a importância da sustentabilidade e como ela se manifesta em embalagens para alimentos e bebidas, batemos um papo com Valeria Michel, diretora de Sustentabilidade da Tetra Pak Brasil e Cone Sul.
Recentemente a Tetra Pak lançou a campanha ‘Escolha Natureza. Escolha Caixinha’. O que essa campanha busca comunicar?
Essa é uma campanha que funciona como uma espécie de manifesto. Nela, ressaltamos os desafios que temos à frente, enquanto sociedade, para preservar o nosso planeta e os recursos naturais e como nós, na Tetra Pak, iremos contribuir com este objetivo.
Até 2050 a população mundial alcançará 9 bilhões de pessoas, o que demandará um incremento na produção de alimentos de 70%, se comparado à produção registrada atualmente. Para fazer com que alimentos e bebidas cheguem a diferentes populações de forma segura, as embalagens terão um papel fundamental – afinal, são elas que garantem a qualidade do produto e a sua distribuição para lugares distantes de onde eles foram fabricados.
É a partir desta constatação que pautamos o nosso objetivo em sustentabilidade: ao mesmo tempo em que precisamos garantir que os alimentos cheguem a diferentes populações de forma segura, também precisamos assegurar que a embalagem ofereça o menor impacto ambiental. Nossa meta é desenvolver a embalagem para alimentos e bebidas mais sustentável do mundo e tornar a produção e consumo de alimentos cada vez mais sustentável.
E quais são os passos para desenvolver a embalagem para alimentos e bebidas mais sustentável do mundo?
É uma longa trajetória, mas para facilitar a compreensão podemos dividir a produção da embalagem em etapas, sendo que em cada uma delas conseguimos reduzir a nossa pegada ambiental de diferentes formas.
Tudo começa com o desenho da embalagem. Nesta etapa avaliamos as matérias-primas que compõem a embalagem e o impacto delas na reciclagem. Nossa meta é chegar a um modelo de caixinha que utilize unicamente matérias-primas de fontes renováveis ou recicladas, mantendo uma das características principais da embalagem longa vida: continuar sendo inteiramente reciclável.
Durante a produção, seguimos atentos à pegada ambiental. Por exemplo, temos a meta de utilizar unicamente energia de origem renovável em nossas fábricas em todo o mundo. Atualmente esse número está próximo a 80%, sendo que no Brasil já temos 100% de energia renovável abastecendo as unidades de Monte Mor (SP) e Ponta Grossa (PR). Além disso, temos colocado esforços para desenvolver equipamentos de processamento e envase que a cada geração sejam mais eficientes que as versões anteriores, reduzindo o consumo de energia, água e insumos durante a fabricação de alimentos e bebidas.
Também precisamos considerar na equação a distribuição e o consumo dos alimentos. Isso significa oferecer caixinhas que tenham melhor desempenho logístico comparado a outros tipos de embalagens (ou seja, que demandem menos viagens para o transporte do mesmo número de produtos). Ao mesmo tempo, garantimos que a embalagem proteja o alimento por mais tempo, cumprindo a nossa promessa de marca de possibilitar que mais pessoas tenham acesso a alimentos seguros.
Por fim, é preciso considerar o final do ciclo do produto – ou seja, o descarte da embalagem pós-consumo. Ela deve ser reciclável e a infraestrutura para que isso aconteça precisa estar disponível e operante. Além disso, aumentando a utilização de matérias-primas renováveis na caixinha, entregamos ao mercado um produto mais adequado ao conceito de economia circular.
E no que diz respeito à embalagem mais sustentável do mundo? A quantos passos de distância a Tetra Pak está de alcançar este objetivo?
Estamos bastante próximos disso. Porcentagem majoritária da caixinha já é renovável, então temos investido esforços em pesquisas e testes de novos materiais que nos permitam chegar à meta de 100% de matéria-prima renovável ou reciclada. No Japão, em 2020, lançamos uma embalagem sem alumínio, com uma barreira alternativa para promover a longa vida do produto; e na Europa, iniciamos um piloto para a incorporação de plástico reciclado às caixinhas. Por enquanto estes projetos estão limitados aos mercados onde estas inovações estão sendo testadas, mas conforme avançarem com resultados positivos, deverão ser cascateados para outras regiões do mundo.
Isso significa que a Tetra Pak deixará um pouco de lado o foco na reciclagem da caixinha?
De modo algum! A reciclagem continuará sendo um pilar importante dentro da nossa estratégia e um ponto do qual não abriremos mão. Nas últimas décadas desenvolvemos uma série de projetos que nos permitiram chegar a uma taxa de reciclagem de 43,7% em 2020, o que representa 108 mil toneladas de embalagens recicladas. Nossa meta é alcançar 100% e não mediremos esforços até que este objetivo seja cumprido.
A única mudança é que estamos incorporando outros desafios e metas dentro da nossa estratégia de sustentabilidade, mas isso não significa reduzir esforços no que diz respeito à reciclagem. Estamos apenas adicionando novos esforços àqueles que já conduzimos em nosso dia a dia.
Em termos práticos, por que um fabricante de alimentos e bebidas deveria investir na embalagem mais sustentável do mundo?
Simples: porque é o que o consumidor deseja, principalmente aqueles mais novos e que em pouco tempo serão os grandes tomadores de decisão nas gôndolas. A última edição da nossa pesquisa Environment Research indica que embalagens sustentáveis influenciam na decisão de compra de 93% dos consumidores brasileiros. Não basta mais que a embalagem seja moderna e ergométrica, ela também precisa comunicar atributos relacionados à sustentabilidade e preservação dos recursos naturais.