*Por Fernando Caprioli
Nos últimos anos temos passado por desafios econômicos expressivos a nível global que atravessam todos os setores e indústrias, criam demandas e impõem necessidades. Entraves logísticos em cadeias de fornecimento, aumento de preço de insumos, oscilações no valor de moedas e medidas restritivas relacionadas à pandemia sendo aplicadas de forma inconstante ao redor do globo são apenas alguns dos fatores que têm estrangulado as margens de diferentes indústrias e a de alimentos e bebidas não é exceção.
Um dos setores que tem atravessado tempos difíceis é o lácteo – especialmente no Brasil, em que assistimos a uma alta de preços do leite, decorrente de uma queda na produção do campo que, por sua vez, se dá em função de um contínuo aumento no preço dos insumos utilizados nesta produção. Este cenário tem estreitado as margens, limitando os investimentos na produção do leite, diminuindo o potencial de oferta, o que é particularmente importante quando consideramos o tamanho da indústria láctea nacional: mais de 34 bilhões de litros de leite por ano, com uma produção alcançando quase 100% dos municípios do país e uma cadeia produtiva que emprega, atualmente, tanto no campo quanto na cidade, cerca de 4 milhões de pessoas.
Na outra ponta, temos vivido mudanças importantes nos hábitos de consumo de alimentos e bebidas no Brasil, direta ou indiretamente ligadas ao longo período de distanciamento social e à alta de preços da maioria dos produtos nas gôndolas. Para manter margens saudáveis para quem produz e agradar os consumidores, é fundamental que produtores destas indústrias busquem diversificar seus portfólios, apostando em derivados do leite, bebidas fermentadas, bebidas lácteas de alto teor de proteína, leite em pó e sobretudo queijos (segundo a Embrapa, apenas 3% dos brasileiros não consomem algum tipo de queijo, fazendo do produto um dos derivados do leite com maior presença na cesta de compras dos consumidores. Além disso, uma pesquisa da Tetra Pak com a Lexis Research revela que, no Brasil, 46% das pessoas afirmam ter aumentado a ingestão do alimento durante a pandemia).
Para fazer esse movimento é fundamental encontrar parceiros adequados para o desenvolvimento destes novos produtos, como fornecedores com conhecimento sobre a indústria e sobre as melhores formas de se agregar novas opções ao portfólio, garantindo a rentabilidade buscada. Este apoio pode vir desde a criação de receitas para estes novos produtos até a aquisição de equipamentos e componentes para as plantas industriais, passando por otimizações e melhorias contínuas durante e após a implementação do processo, o que leva a ganhos de escala e eficiência operacional.
Trata-se de fazer mais com menos e inovar em tempos de instabilidade. Sei que o cenário econômico está instável, mas tenho a visão otimista de que a diversificação de portfólio pode trazer ao produtor a rentabilidade que seu negócio precisa, mesmo durante momentos de crise. E mais do que isso: quando ela surge aliada às tendências de consumo de alimentos e bebidas, à sustentabilidade e ao bem-estar da população, os resultados positivos são consequência direta.
*Fernando Caprioli é Diretor de Serviços da Tetra Pak Brasil. O executivo acumula mais de 20 anos de experiência no setor de alimentos e bebidas, sempre trabalhando com tecnologias que melhorem a eficiência de fabricantes. Caprioli é formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp, com MBA em General Management pelo Ibmec-SP.