Há menos de um século foi possível observar uma evolução, com técnicas e instrumentos que a Humanidade buscou por muitos anos
Por Fernanda Miguel*
A tecnologia usada na indústria de alimentos e bebidas, ao longo do tempo, trouxe benefícios perenes a um mercado formado por todo tipo de consumidor. Talvez uma das mais notórias inovações tenha vindo com o desenvolvimento de processos térmicos como a pasteurização e UHT (Ultra-High-Temperature) que, unindo-se ao envase asséptico, não apenas possibilitaram o aumento da vida útil dos produtos, mas também garantiram maior segurança do alimento e permitiram que ele chegasse a lugares até antes inalcançáveis devido à distância geográfica de seus produtores. Um destaque importante é o envase asséptico, ou seja, sem contato com ambiente externo, ar e manipulação, somado à proteção das embalagens cartonadas, também conhecidas como embalagens longa vida, cuja concepção foi pensada exatamente para a proteção dos alimentos. A união de todos estes processos ajudou na “democratização” do acesso aos alimentos e bebidas.
Tais tecnologias passaram a ser utilizadas em larga escala pela indústria mais recentemente, já no século XX. Mas no que se refere à conservação de alimentos, um longo caminho foi percorrido até aqui. Em um retrospecto da Humanidade, desde que o nomadismo parou de existir, a preservação de comida vem sendo parte essencial da vida em sociedade. Manter as guarnições seguras e consumíveis pelo maior período possível, ao longo do tempo, está diretamente ligado ao estilo de vida das pessoas. Isso certamente, junto a outros fatores históricos e sociais, contribuiu para que a espécie humana trocasse a atividade de caça e coleta pela agricultura, possível pela organização social em locais fixos.
No passado, diferentes técnicas para conservação dos alimentos eram utilizadas, algumas delas com a alteração de temperatura como base. Um exemplo é a desidratação, que se tem conhecimento de ter ocorrido primeiramente em meados de 12.000 A.C., no Oriente Médio, a partir do calor solar. Já a fermentação, de que se tem notícias desde 10.000 A.C. na Mesopotâmia, transforma os açúcares em ácidos e permite uma nova composição nutricional.
Ou seja, o uso de técnicas para conservação de alimentos, seja por processos térmicos ou não, não apenas faz parte da História, mas foi importante em sua evolução. Em 1.790, na França, o confeiteiro Nicolas Appert testou condicionar alimento (em vez de bebida) em uma garrafa grossa (como a de um espumante), lacrá-la e aquecê-la. Esta foi a base para o surgimento do enlatamento. Peter Durand, em 1810, já conhecendo esta técnica, trocou garrafas por latas -daí o nome que conhecemos até hoje, enlatamento. Engarrafamento e enlatamentos ganharam escala e são parte de nossas vidas.
Em 1.834, a primeira patente de refrigeração foi inventada pelo estadunidense Jacob Perkins, baseada na máquina criada por seu conterrâneo, Oliver Evans, quase 30 anos antes. O dispositivo usava compressão de vapor para refrescar os alimentos. Outro processo importante até hoje, que atrelado ao uso de uma embalagem adequada, é ideal para retenção do valor nutricional.
Junto à própria Revolução Industrial, o segmento de alimentos e bebidas evoluía consideravelmente. Mas havia mais por vir. Chegamos a um dos processos mais significativos na história da evolução da conservação de alimentos: o envase asséptico. Uma de suas grandes aliadas é a técnica de pasteurização, descoberta pelos idos de 1.850 pelo cientista francês Louis Pasteur, e que usa temperaturas mais brandas, não passando de 90°C. Já o processo UHT teve início na década de 1960 e, nele, o produto é submetido a temperaturas muito elevadas, geralmente entre 135°C e 150°C, por um curto período (2 a 5 segundos).
São métodos que trazem ganhos significativos para a indústria e que ganharam escala para chegar aos consumidores com um outro advento: a criação das embalagens longa vida, concebidas por Ruben Rausing em 1.951 na Suécia.
Elas são compostas por materiais combinados em seis diferentes camadas para a proteção dos alimentos: polietileno externo (com função de proteção contra a umidade); papel-cartão (para estabilidade e resistência); outra camada de polietileno (para aderência do papel-cartão na folha de alumínio e início a barreira microbiológica); folha de alumínio (oito vezes mais fina que um fio de cabelo humano, funciona como uma barreira contra oxigênio e luz e, assim, mantém o valor nutricional e as características do alimento mesmo em temperatura ambiente); e outras duas camadas de polietileno (que servem tanto como camada de aderência e como camada de proteção para o alimento).
E em 1952, a Tetra Pak, empresa fundada por Rausing, lançou a primeira máquina de envase para embalagens cartonadas, que proporcionou o envase asséptico.
Diferente das diversas barreiras enfrentadas em eras passadas, a sociedade atual tem outros desafios no que se refere a alimentos e bebidas, sua conservação e disponibilidade em qualquer lugar, sempre de forma segura. Mas há menos de um século foi possível observar uma evolução, com técnicas e instrumentos que a Humanidade buscou por muitos anos. Rausing, ao criar as famosas “caixinhas”, antevia exatamente isso. Sua invenção ajudou a indústria na distribuição, proteção do alimento e oferta dele onde quer que fosse, de maneira segura.
Ainda que os adventos tecnológicos sejam capazes de promover transformações profundas no futuro da indústria de alimentos e bebidas, a tríade “processamento térmico + envase asséptico + embalagem longa vida” é hoje expoente máximo da evolução que se teve em tão pouco tempo em toda a história da conservação de alimentos. E deve seguir tendo protagonismo importante para a indústria.
*Fernanda Miguel é Gerente Técnica da Tetra Pak Brasil