*Por Danilo Zorzan
Há algum tempo venho discutindo como, no Brasil e no mundo, a sustentabilidade ganha cada vez mais espaço como critério de consumo – o que invariavelmente leva a uma resposta da indústria, que tende a adaptar, com o tempo (pois trata-se de um processo longo, que não acontece da noite para o dia), todas as etapas da cadeia produtiva para refletir essa demanda dos consumidores. O exercício da sustentabilidade, naturalmente, recai com maior responsabilidade sobre as indústrias, mas em menor escala atravessa também hábitos e escolhas de consumo a nível individual, e quase tudo que diz respeito a ela pode ser pensado nessas duas chaves.
O elemento que quero destacar aqui, por sua relevância e tendência a aparecer na maioria das conversas corriqueiras sobre sustentabilidade em diferentes indústrias, inclusive a de alimentos e bebidas, é o das embalagens, que podem ser pensadas tanto a nível individual – quem recicla ou não recicla, quem reaproveita, quem dá preferência a alimentos vendidos em embalagens menores ou mesmo sem embalagens, quem faz um descarte inadequado etc. – como industrial – que materiais são utilizados nas embalagens, como é seu processo produtivo, se há uma preferência por materiais recicláveis, o grau de envolvimento das indústrias nas cadeias recicladoras e, de forma ampla, o que a indústria está fazendo para tornar suas embalagens mais sustentáveis.
Temos envelopado esse complexo conjunto de iniciativas rumo a embalagens mais sustentáveis no conceito de “positive packaging” ou “embalagem positiva”: um olhar estratégico que busca entender como embalagens ajudam a construir uma cadeia de consumo sustentável e que passa por conceitos como ecodesign, descarte adequado, reciclabilidade e muitos outros fatores.
Diversas inovações vêm sendo implementadas neste sentido, com destaque para a substituição de materiais das embalagens por alternativas mais sustentáveis: plástico por papel, utilização de materiais parcial ou totalmente reciclados e retornáveis e por aí vai. Estas iniciativas sem dúvida estão atreladas a uma expectativa dos consumidores: segundo a pesquisa recente Consumo de Embalagens Sustentáveis (Sustainable Packaging Consumer Research 2021), realizada pela Tetra Pak, cerca de 40% dos consumidores mencionaram ter mais motivação para realizar a separação de embalagens para a reciclagem se elas forem feitas inteiramente de papel e não tivessem plástico ou alumínio.
Nesta esteira, fabricantes de embalagens cartonadas têm testado utilizar barreiras à base de fibras ou polímeros em substituição ao alumínio, para ampliar o conteúdo renovável das embalagens e neutralizar a pegada de carbono no processo de fabricação. Os primeiros resultados têm sido promissores, sugerindo redução substancial de emissão de CO2 sem comprometimento da qualidade dos alimentos ou seus prazos de validade. Outro diferencial está no aumento do interesse pelas fábricas de papel em embalagens com maior teor desse material, o que fortalece o ecossistema da economia circular de baixo carbono.
Fato é que precisamos, enquanto indústria, construir uma jornada que priorize a sustentabilidade, e a partir de um item aparentemente simples, como uma embalagem, conseguimos pensar e desenhar uma profunda inovação transformacional colaborativa, que envolve a própria indústria, startups, universidades, empresas de tecnologia e até instituições públicas. Deste modo atenderemos não só a uma demanda do planeta, mas também às expectativas de consumidores cada vez mais críticos em relação aos produtos que escolhem nas gôndolas.
*Danilo Zorzan é diretor de Marketing da Tetra Pak Brasil. O executivo acumula mais de vinte anos no setor de alimentos e bebidas. Em sua trajetória dedicou-se a projetos globais com foco no desenvolvimento de novas soluções e impulsionamento de vendas na indústria alimentícia.