2023-03-25

A “velha e nova” indústria de hoje e sempre e sua relação com o consumidor*

*Por Danilo Zorzan, diretor de marketing da Tetra Pak Brasil

Termos como “experiência do consumidor”, “estratégia centrada no cliente”, entre tantos outros sinônimos, tornaram-se muito populares nos anos mais recentes. E não apenas no Brasil, vide as expressões “Customer Centric”, “Customer Experience” (que originou o famoso vocábulo “CX”), além de tantas outras usadas em vários países. O que estas nomenclaturas possuem em comum? Elas identificam os públicos-alvo de um produto ou serviço como o ponto mais importante do relacionamento entre empresa e consumidor, sendo este o responsável em grande parte pela forma como as companhias traçam suas estratégias.

 

Na indústria especificamente, isto nunca foi uma grande novidade. A estratégia centrada no consumidor sempre se fez presente – e aliás, a todo momento deu ao segmento o tom de como seguir e reinventar-se sempre que necessário. Pegando como exemplo uma onda mais recente no segmento de alimentos e bebidas, o crescimento do veganismo, seja ele atrelado a causas ambientais, animais ou até mesmo de saúde, contribuiu fortemente, entre outros motivos, para o sucesso das bebidas proteicas. A dieta flexitariana, com alimentação reduzida em proteínas de origem animal, vem, há alguns anos, ganhando espaço na sociedade. O consumidor trouxe à indústria uma nova demanda. Aos fabricantes, coube-lhes ouvir essa necessidade e disponibilizar opções mais compatíveis a esta transformação.

 

Segundo dados da Mondor Intelligence, o mercado global de bebidas proteicas prontas para beber foi avaliado em 1.341,76 milhões de dólares em 2020 e deve registrar uma taxa de crescimento anual de 7,72% entre 2022 e 2027. Apenas para elucidar este cenário e enriquecer a discussão, temos observado na Tetra Pak um crescimento na categoria de bebidas proteicas. Há poucos anos, elas nem constavam em nosso portfólio, pois não eram uma necessidade para nossos clientes da indústria de alimentos e bebidas. Até que se tornaram.

 

Temos desde então trabalhado junto com diversos parceiros para entender os anseios deste novo consumidor. Atualmente, atendemos categorias que, há poucas décadas, não faziam parte de nosso portfólio, seja de embalagens cartonadas, seja nas frentes de Processamentos ou Serviços. É o caso de bebidas proteicas, vegetais ou plant-based, assim como vinho, café e até mesmo água, para citar apenas algumas. Mas acompanhamos junto com a indústria novas necessidades dos consumidores. Isso tudo sem descuidar de categorias mais tradicionais e já estabelecidas, como a de lácteos e sucos, por exemplo.

 

A indústria possui a sua competitividade na capacidade produtiva e de distribuição. Mas se pensamos, por exemplo, nos millenials, trata-se de uma geração que de alguma maneira desafia e ressignifica isso a partir de seu poder de compra atrelado ao acesso à informação, que está na palma de sua mão. E se juntarmos a isso uma militância mais notória nos últimos tempos em prol do meio ambiente e da sustentabilidade, temas que atraem interesse também da geração Z e até mesmo da geração X, uma nova equação se forma para desafiar a reinvenção da indústria de alimentos e bebidas.

 

Conduzimos recentemente uma pesquisa em parceira com a Ipsos que revelou que saúde pessoal e menor impacto no meio ambiente são considerados cada vez mais por consumidores do mundo todo nas escolhas alimentares do dia a dia. Este estudo, denominado Tetra Pak Index, considera as opiniões de 5 mil pessoas em dez países, incluindo o Brasil. Esses consumidores ambientalmente conscientes são chamados “climatários” e estão dispostos a alterar seus hábitos alimentares para proteger o planeta.

 

O mercado de alimentos saudáveis já está bem estabelecido, uma vez que os consumidores procuram ativamente produtos que tenham um impacto positivo no seu bem-estar físico. Mas uma maioria significativa tem agora uma visão mais holística. Segundo dados do estudo, 70% dizem que os produtos saudáveis não devem prejudicar o ambiente, enquanto outros 54% estão dispostos a assumir a responsabilidade pelo planeta e a mudar a sua dieta para contribuir para um mundo melhor.

 

O consumidor de 2024 não é o mesmo do início deste século, que é diferente do de cinquenta anos atrás. Nenhuma novidade até aqui. E é fato que a indústria de alimentos e bebidas sempre esteve atenta às necessidades de consumo de cada época. Mas talvez nunca tenhamos vivenciado tempos em que o consumidor tenha tido tanto poder de impactar estratégias de vendas, vide acessibilidade facilitada a grande volume de informações, além de propósito ao escolher sua alimentação – algo relativamente novo. Para a indústria, digo mais uma vez, não é nenhuma novidade que é essencial entender o seu consumidor. E é em meio ao ato de cumprir sua velha rotina, de ser notório e importante para seu público, que o segmento de alimentos e bebidas olha, paradoxalmente, o novo. É a única maneira de se reinventar e ser relevante para públicos sempre mais exigentes.