Existe um esforço global para estimular a economia circular, mas garantir que os produtos chegam aos centros de reciclagem não é suficiente.
Está na altura de elevar a reciclagem a outro patamar e criar, sistematicamente, produtos de alta qualidade que mantenham, ou mesmo superem, o seu valor original.
Uma inovadora marca holandesa de design de interiores está a trabalhar intensamente para demonstrar o potencial da reciclagem em larga escala, demonstrando onde pode chegar o design totalmente circular.
Em 2021 foram produzidas cerca de 200 000 milhões de embalagens para bebidas e calcula-se que há cerca de 5 000 milhões de edifícios em todo o mundo. Imagine o que aconteceria se transformássemos estas embalagens de cartão em peças arquitetónicas de elevado valor e, assim, diminuíssemos a necessidade de material virgem utilizado para construir e mobilar os nossos espaços pessoais e profissionais?
A Aectual é uma marca de design com sede em Amsterdão e a primeira plataforma do mundo de produtos de arquitetura e de design de interiores 100% circulares e impressos em 3D. Em colaboração com a equipa de Experiência no Local de Trabalho e Imóveis da Tetra Pak, a Aectual desenvolveu uma série de objetos e elementos de interior, de uma beleza ímpar, fabricados integralmente com PolyAl (polímeros e alumínio provenientes de embalagens de cartão recicladas).
Apresentada na Feira de Design de Milão em junho de 2022, a linha concetual Aectual x Tetra Pak está a ser implementada, gradualmente, nas instalações da Tetra Pak a nível global.
“Juntamente com a Aectual, desenvolvemos um manual com uma seleção de produtos que as nossas equipas podem selecionar para mobiliar os seus próprios ambientes, enquanto implementam projetos no local de trabalho”, comenta Sudhir Saseedharan, diretor da equipa de Experiência no Local de Trabalho e Imóveis da Tetra Pak. “Parte da nossa estratégia de experiência no local de trabalho, é garantir que cumprimos a nossa promessa de proteger os alimentos, as pessoas e o planeta no nosso próprio ambiente de trabalho, todos os dias”.
O manual inclui bancos funcionais e elegantes, vasos, painéis de parede, divisórias para salas, telas para janelas e muito mais – tudo impresso em 3D com PolyAl e 100% circular, já que, quando as peças se desgastam, podem ser trituradas e reimpressas para criar produtos novamente.
O projeto começou quando a equipa de Sudhir questionou: “como podemos utilizar os resíduos das embalagens, após o seu consumo, nos nossos próprios móveis e interiores?” Simultaneamente, a Aectual testava o PolyAl nos seus designs de impressão 3D, trabalhando com material que recebiam de uma empresa de reciclagem local.
A opinião generalizada da maioria dos designers é que o PolyAl não é um material de base viável, já que o componente de alumínio dificulta o trabalho. Mas a Aectual descobriu precisamente o contrário.
“O PolyAl é um material impressionante”, afirma a diretora criativa e cofundadora da Aectual, Hedwig Heinsman. “É quase como argila e é semelhante ao betão, mas é verdadeiramente versátil. Os fragmentos de alumínio dão-lhe profundidade e permitem que a cor se misture bem com o material. Tem uma sensação ao toque no acabamento fantástica. Com base nestes comportamentos, acreditamos poder utilizar o PolyAl para produzir todos os produtos do nosso portfólio”.
A Aectual trabalha com vários tipos de plásticos, desde o plástico virgem de origem vegetal até ao polipropileno reciclado, mas centra-se nos ecossistemas onde consiga aproveitar os valiosos fluxos de reciclagem.
“Trabalhamos com resíduos plásticos porque vemos muitas vantagens nesse material, mas necessitamos de grandes quantidades de fonte idêntica”, assinala Hedwig. “Por isso, procuramos parceiros industriais profissionalizados que nos ajudem a fechar o círculo: quando há material reciclado disponível, podemos adaptá-lo à impressão 3D”.
Dedicada 95% a clientes empresariais, a Aectual trabalha com empresas como a Nike, Disney e Burberry, entre outras. “Procuram-nos pela estética, adoram o aspeto dos nossos produtos, e acabam por ficar pela questão da sustentabilidade”.
A impressão 3D reduz em 80% as emissões de CO2 porque os produtos são criados com menos materiais, não há stock e a produção é feita sob encomenda. Se adicionarmos os materiais reciclados a esta equação, os produtos da Aectual oferecem às empresas uma oportunidade real de reduzir o seu impacto ambiental.
“Trabalhar com clientes empresariais faz sentido já que, muitas vezes, têm uma ampla rede de instalações para mobilar e renovam os interiores, aproximadamente, de cinco em cinco anos. Criam um lugar neutro para depois incluirmos os nossos designs”, explica Hedwig.
“Como sempre referiu a nossa equipa de sustentabilidade, para que qualquer inovação sustentável tenha um impacto tangível, tem de estar disponível em escala”, afirma Sudhir. “O bom da plataforma da Aectual é que os designs são personalizáveis em massa. Assim, onde existir uma infraestrutura de reciclagem confiável e parceiros disponíveis, o PolyAl pode incorporar-se nos designs da Aectual. Vemos isto como a base para criar uma verdadeira transformação sistémica com o PolyAl e é isso que queremos ajudar a potenciar.”
E a Aectual vê um maior potencial na utilização do PolyAl.
“Todos os anos se produzem quase 200 000 milhões de embalagens para bebidas e calcula-se que existam cerca de 5 000 milhões de edifícios no mundo. Quando começas a converter essas embalagens de cartão em PolyAl, vês realmente o seu potencial como um novo material arquitetónico”, acrescenta Hedwig. “Já o apresentámos a vários ateliers de arquitetura em todo o mundo e faremos o possível para dar a conhecer todo o potencial do PolyAl”.
A Aectual foi fundada em 2017, por arquitetos e designers para arquitetos e designers. Uma das primeiras empresas a construir uma impressora 3D de grande escala, faz esforços pela circularidade total e pelo desperdício zero, trabalhando unicamente com materiais sustentáveis reciclados e renováveis. Atualmente, a Aectual colabora com ateliers de arquitetura e design reconhecidos internacionalmente, tais como: Zaha Hadid architects, Studio Patricia Urquiola e Gramazio Kohler Research em ETH Zurique, e o seu objetivo é tornar-se na plataforma global de referência para a impressão a 3D circular.