Carta aberta aos governos e ao setor

Os sistemas de alimentos devem ser transformados para enfrentar as mudanças climáticas

Atualmente, nossos sistemas de alimentos globais contribuem com mais de um terço das emissões de gases do efeito estufa anuais (GEE). Apesar da necessidade urgente de descarbonização, o investimento nesse setor continua baixo: apenas 4%¹ do financiamento climático apoia os sistemas alimentares, destacando uma desconexão urgente entre metas climáticas e prioridades financeiras.

À medida que o mundo enfrenta a segurança alimentar para uma população crescente, o desafio de criar sistemas de alimentos resilientes e sustentáveis deve ir além da fazenda. Isso inclui o “meio oculto”, frequentemente negligenciado, entre a fazenda e o consumidor, que tem papel fundamental na ação climática e na resiliência da cadeia de suprimentos, contribuindo com até 40%² do valor econômico agregado nas cadeias de valor agroalimentares.

Nenhum NDC 3.0 está completo sem a inclusão da transformação do sistema alimentar em toda a cadeia

Um caminho eficaz para essa transformação é integrar políticas abrangentes de sistemas alimentares às Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs 3.0), compromissos climáticos do Acordo de Paris para reduzir as emissões nacionais e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. Atualmente, as NDCs se concentram principalmente na produção agrícola e em dietas saudáveis. Esse foco restrito pode ignorar etapas da cadeia de valor alimentar que garantem a segurança alimentar e promovem o desenvolvimento sustentável. Com a entrega dos NDCs atualizados em 2025, a Tetra Pak, aproveitando sua posição central, defende a valorização dos benefícios do “meio oculto”.

Ao integrar políticas abrangentes de sistemas de alimentos às NDCs 3.0, os governos podem incentivar a produção e a distribuição sustentáveis de alimentos, ajudando a melhorar a segurança alimentar e a conservar os recursos. Adotar embalagens de baixo carbono, otimizar o uso de energia e água no processamento e explorar fontes alimentares alternativas pode garantir acesso a alimentos seguros e reduzir o impacto ambiental. Esses esforços são essenciais agora para cumprir as metas climáticas e promover a resiliência climática.

Desbloqueando o potencial do “meio oculto”

Com presença global e capacidades avançadas, a Tetra Pak colabora com atores de toda a cadeia de valor — de produtores a formuladores de políticas — e atua como parceira na transformação dos sistemas alimentares.

Com base em nossos quatro caminhos de ação para possibilitar a transformação dos sistemas de alimentos, estamos pedindo aos governos e ao setor que

1. Reequilibrar o financiamento climático para aumentar e “delimitar” o investimento e os incentivos em todas as cadeias agroalimentares, inclusive no “meio oculto”.

Os mecanismos globais podem abordar a segurança alimentar e a desigualdade, apoiar nações vulneráveis, promover o desenvolvimento sustentável e aumentar a estabilidade global. Incentivos financeiros nacionais, como subsídios e empréstimos, devem beneficiar fabricantes de alimentos, especialmente pequenas e médias empresas.

Esses investimentos e incentivos devem apoiar a transformação do sistema alimentar por meio da implementação e ampliação de soluções já disponíveis e comprovadas para a produção comercial de alimentos, criando sistemas adequados para o futuro e para os desafios de uma população global em crescimento.

Governos também podem financiar P&D conjunta entre setores público e privado para fomentar a inovação alimentar.

Esses mecanismos devem permitir que os fabricantes de alimentos:

• Investir em soluções que reduzam emissões de GEE, uso de recursos e desperdício de alimentos, diminuindo a pegada de carbono dos sistemas alimentares.
• Atualizar os equipamentos instalados para otimizar a produção de alimentos e reduzir o uso de recursos. Melhorar o desempenho é essencial para metas de sustentabilidade, pois fábricas eficientes são mais sustentáveis e reduzem perdas.

A Tetra Pak defende que o apoio esteja vinculado a soluções que comprovadamente reduzam emissões e desperdícios nas linhas de processamento.

Esse apoio deve demonstrar como os investimentos fortalecem a resiliência da cadeia de suprimentos e promovem segurança alimentar, estabilidade social e desenvolvimento econômico sustentável, garantem a estabilidade social, criam segurança de mercado para os agricultores e melhoram os meios de subsistência.

2. Desbloquear o “meio oculto” dos sistemas de alimentos com políticas transformadoras e orientadas por incentivos nas NDCs 3.0.

A Tetra Pak acredita que as NDCs 3.0 devem ser focadas em resultados e incluir planos, projetos ou políticas de capacitação que se concentrem em:

• Incluir planos, projetos ou políticas de capacitação que priorizem a modernização da infraestrutura de processamento, embalagem, transporte e armazenamento. Aproveitar o “meio oculto” pode tornar os alimentos mais acessíveis e reduzir perdas, beneficiando populações maiores com produtos seguros e nutritivos, enquanto a perda e desperdício de alimentos podem ser reduzidos para que uma população maior desfrute de produtos nutritivos com segurança.
• Melhorar a segurança alimentar e a nutrição das populações vulneráveis, por exemplo, incentivando as parcerias público-privadas. Os exemplos incluem projetos colaborativos para desenvolver alimentos fortificados para programas de alimentação escolar.
• Apoiar PMEs, pequenos agricultores e outros agentes no “meio oculto” por meio de infraestrutura e serviços de capacitação.
• Reduzir a perda e desperdício de alimentos em toda a cadeia de valor por meio, por exemplo, do estabelecimento de metas de redução obrigatórias, inclusive no estágio de processamento.

Assinado,

Lars Holmquist - vice-presidente executivo de sustentabilidade, Tetra Pak